terça-feira, maio 08, 2007

A loira

Em meio às leituras da pesquisa também leio livros que de certa forma se relacionam com o meu estudo. Acho que é a minha esperança de que vou um dia, como no filme "Uma mente brilhante", achar "a loira" que vai causar aquela faísca que junto com o conhecimento já adquirido fará surgir a "grande idéia".

Já ouvi que isso é a esperança infantil de quem está começando, e que pesquisador "experiente" já não acredita nisso. Mas não me contento só em descobrir como as coisas funcionam, se é que é isso que motiva o tal do pesquisador "experiente". Caso contrário, fico me perguntando por que o mesmo ainda continua pesquisando, uma vez que ele já não tem esperança de achar algo relevante.

Voltando à leitura. Estou terminando de ler um livro que trata do desenvolvimento de um ramo da matemática conhecido como teoria de grupos. Um resultado que nasceu junto com este ramo é a prova de que equações de grau 5 ou maior não podem ser resolvidas com uma fórmula baseada nos radicais da equação, como no caso da nossa velha "conhecida" Fórmula de Baskhara, que para o resto do mundo tem o nome de Teorema de Viète e é usada para resolver as equações de grau 2.

O que quero ressaltar no entanto não é "a coisa em si", mas o criador da "coisa". Évariste Galois foi o matemático autor da façanha. Viveu no século 19 em uma França conturbada e levou uma vida igualmente conturbada até os 20 anos de idade, quando foi morto em um duelo de pistolas, e como diria um antigo professor: "Por causa de mulhé(sic)".

É desconhecida a razão do duelo. Se foi por um affair ou razões políticas, não se sabe, mas ambas as razões são igualmente plausíveis, devido ao comportamento explosivo de Galois, que diga-se de passagem já havia sido preso algumas vezes.

A história é "de cinema", por ter um protagonista que poderia prender o espectador na tela devido ao brilhantismo e temperamento, digamos inquieto, além, é claro, da dramaticidade dos eventos em sí, como por exemplo: o cenário político da época, a véspera da morte, na qual Galois passa a noite escrevendo cartas aos amigos descrevendo suas idéias, e finalmente o reconhecimento mesmo que tardio. As cartas juntamente com os trabalhos não publicados formam todo o legado matemático de Galois.

Como já disse, sou daquele tipo que ainda procura e acredita que exista a tal "da loira". E não querendo me comparar mas já me comparando, não tenho mais 20 anos de idade, não estou envolvido em nenhum imbróglio político e muito menos tenho um duelo marcado para esses dias, mas ficaria muito feliz em perder a noite escrevendo uma solução para um problema e dar uma contribuição para a ciência. E reparem que não precisa nem ser todo um novo ramo. Um "teoreminha" já bastaria.

Na melhor das melhores hipóteses, enquanto esse dia não chega, fico aqui lendo a história e esperando que algum roteirista esbarre com esse matemático nos livros por aí e tenhamos como resultado um bom filme.

Mesmo sabendo que o protagonista não dura até o final, iria assistir. Afinal, minha "loira" poderia estar lá no filme.