sexta-feira, julho 20, 2007

Greve de Papel Higiênico

Tenho um amigo da época da faculdade, que é daquele tipo "folclórico". Acho que todo mundo tem pelo menos um amigo assim. Ele era folclórico não simplesmente porque bebia e falava um monte de coisas engraçadas (as vezes sem precisar beber), mas porque muitas vezes seus discursos seguiam aquela linha Arquivo X/neo-zen-budista do tipo "não se deixe levar pelos outros, verifique você mesmo a verdade". Já explico. Lembro que me contaram um dia que ele tinha decidido dormir no chão, porque se perguntou "Por que dormimos em camas? Quem impôs isso para nós?".

Vendo o acidente da TAM pelos jornais, lendo já algum tempo o descaso com a infra-estrutura, o desapego pelas normas, sejam elas de segurança ou não, e finalmente o "ver até onde vai" me fazem lembrar definitivamente deste meu amigo. Não sei o desfecho da história anterior mas lembro de outra em que ele teve outro questionamento.

"Por que limpamos a bunda depois de ir ao banheiro?". É uma pergunta válida, afinal, antigamente não existia papel higiênico. "Então por que eu deveria fazer isso?". Foi o cheque-mate. Não preciso dizer que meu amigo resolveu então fazer uma "greve de papel higiênico".

As vezes penso que o Brasil caminha pelo mesmo caminho. Meu amigo sem saber concluir por si próprio porque determinado hábito existe, se lança à "prova dos nove" sem pestanejar. A ausência de planejamento, falta de rigidez ao seguir normais, "deixar passar isso ou aquilo" e o jeitinho brasileiro vão cobrar o preço mais adiante, e essa é a "prova dos nove". Não é um post sobre o acidente, mas poderá ter alguma relação depende do resultado da investigação. Trata-se mais de uma reflexão sobre o porquê que frequentemente nos pegamos falando "isso só acontece no Brasil".

Imagino que essas coisas acontecem porque as pessoas envolvidas não refletiram sobre as consequências da falta de esmero nas suas atividades ou, como no popular, "o porquê de fazer desse jeito e não do outro que é mais fácil". Prefiro não pensar que é puro sentimento de impunidade. Uma vez Richard Feynman, famoso físico americano que estudou o desastre da Challenger, falou "a realidade precisa ter precedência sobre as relações públicas porque a natureza não pode ser enganada". Não poderia ter falado melhor.

Já que muitas vezes o brasileiro não consegue ler regras e raciocinar sobre o porquê delas estarem lá, que pelo menos aprenda com a própria experiência e que, como o meu amigo, conclua no final que se não limpar a bunda a merda espalha e tudo fica assado.