domingo, junho 22, 2008

Aula

Essa história aconteceu faz uns meses, e resolvi deixar registrado. Então, lá vai.

A questão da língua pesa muito no dia a dia no exterior. É, claro que é sempre possível viver apenas com as expressões básicas e sem se esforçar para evoluir. Afinal, está, literalmente, estampado na minha cara que não sou daqui e "obviamente", pra eles, minha lingua materna não é japonês, é inglês. Para onde sempre posso "correr" quando a coisa aperta.

Como já afirmei antes, acho um desperdício viver em um país e não tentar aprender a língua. Além disso, acho um tanto descortês não tentar se comunicar com o povo que está te acolhendo na língua deles. E percebam que não estou nem entrando na questão de oportunidades que podem surgir no futuro para quem domina o idioma local.

Na faculdade existe um departamento que fornece cursos de japonês em diversos níveis. Cursei alguns deles, mas ultimamente confesso que não estava muito contente com os resultados.

Um dos grandes problemas dessas aulas é que, como no resto do mundo, sempre tem um chinês, e esses caras sabem mais kanji que as próprias professoras. Quando ninguém na aula entende o que a professora disse pra fazer, o supracitado indivíduo dá aquela olhadela no livro e já sabe o que tem que fazer.

É óbvio que a culpa não é dele, mas como eu tenho que culpar alguém, que não seja eu, pelo meu fracasso de tirar proveito das aulas de japonês na faculdade, então eu escolhi ele.

Então, depois de meditar um pouco a respeito, decidi aceitar a sugestão da minha amiga Fernanda. E estou tentando uma abordagem diferente para meu japonês: entrei numa escola nova.

Na verdade, este post é só pra contar como foi o meu primeiro dia de aula. Tudo que escrevi é pra chegar neste ponto.

Ao entrar e mostrar o folheto que tinha recebido da escola matriz que tinha me recomendado aquela filial, a professora exclamou, "português"!

E em seguida emendou um "¿hablas portugués?". Sim, meus caros amigos, a japonesa sabe um pouco de espanhol. E nisso, uma aluna dela se aproximou e ficava me olhando (como todos os outros alunos da sala, diga-se de passagem).

A sala não era uma sala de aula e sim uma sala de estudos. Os alunos ficavam fazendo suas lições e entregando para os coordenadores. Enquanto conversávamos, a aluna começou a perguntar para a professora coisas do tipo: "que língua é essa?", "ele fala espanhol?", "ele consegue falar japonês?". Foi assim até eu rir e a professora falar pra ela "ele entende, viu".

Em muitas escolas no Japão alguns alunos sofrem maus tratos dos colegas, em uma prática conhecida como "いじめ", em alfabeto, ijime. Em alguns casos, isso é causa de suicídios entre adolescentes e já é considerado um problema nacional.

Quando entrei na sala, e vi todos aqueles japoneses, pensei "é, acho que não vou conversar muito por aqui", mas logo que terminei o exercício que a professora me deu para fazer, para medir o meu conhecimento, essa minha colega veio conversar comigo. Perguntou se eu tinha conseguido fazer, e respondi que achava que sim.

Pensei, "po, já fiz uma amiga, pelo menos não vou sofrer ijime". E acho que ela gostou de conversar comigo também. Afinal, ela foi a única dos meus colegas que teve coragem de se aproximar. Ela fez mais algumas perguntas e pediu pra olhar o caderno de exercícios, e logo em seguida falou que pareciam dificeis.

Eu até estava pensando em chamar a japonesinha, minha nova amiga, pra tomar uma cerveja com os meus amigos da faculade e os colegas de laboratório, mas acho que ela não vai poder ir. Aqui no Japão, a maioridade pra bebida é 20 anos e eu acho que ela deve ter uns 7 anos de idade.

Acho que eu e ela devemos saber a mesma quantidade de kanji. Mas eu vou melhor na matemática. A "tia" só manda continhas com no máximo 4 algarismos, por exemplo 3459 "vezes" 230, e isso eu já aprendi!

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