sexta-feira, dezembro 07, 2007

Pequeno gafanhoto




Estava eu, perdido nos meus pensamentos, quando o meu orientador dirige a palavra para mim e me pergunta: O que preferes: Automata, teoria da computação ou complexidade?
E eu, do alto da minha sapiência, respondi: Como assim?
E ele continuou: É. Qual a que tu sabe mais?
Daí para adiante a coisa desandou.

Minha percepção dos três assuntos se baseia, principalmente, nas coisas que lembro da graduação. Estudei e continuo estudando hoje, mas os conceitos principais ainda remontam daquela época.

E aí a coisa desandou. "Ah, eu acho legal teoria da computação". E ele falou "Ótimo, no semestre que vem tu vai dar aula para os alunos de graduação". Sim, meus caros amigos, me tornei um professor universitário. Até aí, tudo bem! Afinal, como já disse, lembro dos conceitos básicos: linguagem, máquina de Turing, decidabilidade e outras bruxarias. É só chegar, subir no "tablado" e falar um monte de bobagens. Se me lembro bem, era assim que funcionava.

Meus leitores assíduos (pai e mãe) e cientes da minha condição geográfica, já perceberam a gravidade da situação. Não é simplesmente subir lá e falar um monte de mentiras. Não, meus caríssimos leitores. É subir lá ficar na frente de todo mundo e falar um monte de mentiras em japonês! Porque, afinal, isso é muito mais divertido. Obviamente, apenas para o meu orientador ou como é chamado aqui, "sensei". Sim, "pequeno gafanhoto" esta é a sua tarefa.

Dentro de umas semanas, novo semestre e as aulas começaram. As aulas designadas para mim não são muitas, é verdade. Apenas o suficiente para me tirar algumas semanas de sono. As duas primeiras aulas já foram. E para ficar ainda mais emocionante, meu orientador não decide o assunto com antecedência de mais de uma semana, ou seja não dá nem pra decorar o discurso e mesmo se tivesse mais tempo, nem daria porque quem mais faz pergunta é o próprio sensei, que gosta de ficar sentado lá no meio dos alunos. Afinal o "desafio do dragão" é saber tudo. E lá estava eu, decor... aprendendo meu novo vocabulário todo escrito em kanji.

Obviamente, eu já sei algumas palavras. Por exemplo, comida, azul, vermelho, água, ler, escrever e etc. Entáo foi bem fácil aprender a desen... escrever coisas do tipo "determinismo", "não-determinismo", "decidabilidade","máquina","linguagem","definição","teorema", "intersecção"...
E lá fui eu, firme como prego na areia. A estratégia era: já que não entendem nada do que eu falo mesmo. Vou escrever tudo no quadro. Tudo em bom japonês! E aparentemente até que estava bem escrito, mas a reação da audiência não era das mais empolgadas. Depois de um massacre de 30 minutos, correções e etc, o martírio acabou. Agora meu sensei quer que eu tente fazer a apresentação da conferência em japonês.

"Try not. Do or do not. There is no try, pequeno gafanhoto".

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