quarta-feira, maio 25, 2011

Dois gugol, o retorno.

Cá estou eu aqui no laboratório da faculdade pensando que poderia colocar este blog de novo pra funcionar.
Desde a última postagem, lá pela metade de 2008, muita coisa já aconteceu. Em minha defesa, posso alegar que este blog nunca foi pra ser atualizado muito fielmente mesmo.

Enfim, posso enumerar algumas coisas que aconteceram nesses últimos anos.

1.Virei mestre: esse não era muito difícil de descobrir que ia acontecer. Me formei em setembro de 2008 e já entrei no doutorado no mesmo laboratório.

2.Virei correspondente internacional:
já havia feito trabalhos de correspondente em 2007 quando cobri a Tokyo Game Show. Desta vez assinei contrato e de cara cobri o maior terremoto já registrado no Japão juntamente com o tsunami e o vazamento nuclear. Para os interessados em avaliar minhas recentemente adquiridas habilidades jornalisticas, aqui vão minhas matérias, que, aliás, não estão em ordem cronológica.
3. Virei marido: segui o caminho de todo o homem. Fiz um ano de casado este mês!

domingo, junho 22, 2008

Aula

Essa história aconteceu faz uns meses, e resolvi deixar registrado. Então, lá vai.

A questão da língua pesa muito no dia a dia no exterior. É, claro que é sempre possível viver apenas com as expressões básicas e sem se esforçar para evoluir. Afinal, está, literalmente, estampado na minha cara que não sou daqui e "obviamente", pra eles, minha lingua materna não é japonês, é inglês. Para onde sempre posso "correr" quando a coisa aperta.

Como já afirmei antes, acho um desperdício viver em um país e não tentar aprender a língua. Além disso, acho um tanto descortês não tentar se comunicar com o povo que está te acolhendo na língua deles. E percebam que não estou nem entrando na questão de oportunidades que podem surgir no futuro para quem domina o idioma local.

Na faculdade existe um departamento que fornece cursos de japonês em diversos níveis. Cursei alguns deles, mas ultimamente confesso que não estava muito contente com os resultados.

Um dos grandes problemas dessas aulas é que, como no resto do mundo, sempre tem um chinês, e esses caras sabem mais kanji que as próprias professoras. Quando ninguém na aula entende o que a professora disse pra fazer, o supracitado indivíduo dá aquela olhadela no livro e já sabe o que tem que fazer.

É óbvio que a culpa não é dele, mas como eu tenho que culpar alguém, que não seja eu, pelo meu fracasso de tirar proveito das aulas de japonês na faculdade, então eu escolhi ele.

Então, depois de meditar um pouco a respeito, decidi aceitar a sugestão da minha amiga Fernanda. E estou tentando uma abordagem diferente para meu japonês: entrei numa escola nova.

Na verdade, este post é só pra contar como foi o meu primeiro dia de aula. Tudo que escrevi é pra chegar neste ponto.

Ao entrar e mostrar o folheto que tinha recebido da escola matriz que tinha me recomendado aquela filial, a professora exclamou, "português"!

E em seguida emendou um "¿hablas portugués?". Sim, meus caros amigos, a japonesa sabe um pouco de espanhol. E nisso, uma aluna dela se aproximou e ficava me olhando (como todos os outros alunos da sala, diga-se de passagem).

A sala não era uma sala de aula e sim uma sala de estudos. Os alunos ficavam fazendo suas lições e entregando para os coordenadores. Enquanto conversávamos, a aluna começou a perguntar para a professora coisas do tipo: "que língua é essa?", "ele fala espanhol?", "ele consegue falar japonês?". Foi assim até eu rir e a professora falar pra ela "ele entende, viu".

Em muitas escolas no Japão alguns alunos sofrem maus tratos dos colegas, em uma prática conhecida como "いじめ", em alfabeto, ijime. Em alguns casos, isso é causa de suicídios entre adolescentes e já é considerado um problema nacional.

Quando entrei na sala, e vi todos aqueles japoneses, pensei "é, acho que não vou conversar muito por aqui", mas logo que terminei o exercício que a professora me deu para fazer, para medir o meu conhecimento, essa minha colega veio conversar comigo. Perguntou se eu tinha conseguido fazer, e respondi que achava que sim.

Pensei, "po, já fiz uma amiga, pelo menos não vou sofrer ijime". E acho que ela gostou de conversar comigo também. Afinal, ela foi a única dos meus colegas que teve coragem de se aproximar. Ela fez mais algumas perguntas e pediu pra olhar o caderno de exercícios, e logo em seguida falou que pareciam dificeis.

Eu até estava pensando em chamar a japonesinha, minha nova amiga, pra tomar uma cerveja com os meus amigos da faculade e os colegas de laboratório, mas acho que ela não vai poder ir. Aqui no Japão, a maioridade pra bebida é 20 anos e eu acho que ela deve ter uns 7 anos de idade.

Acho que eu e ela devemos saber a mesma quantidade de kanji. Mas eu vou melhor na matemática. A "tia" só manda continhas com no máximo 4 algarismos, por exemplo 3459 "vezes" 230, e isso eu já aprendi!

segunda-feira, março 03, 2008

Hierarquia


Um aspecto da cultura japonesa que é bem marcante é a hierarquia. Em praticamente todos os ambientes em que se está inserido é deixado bem claro "qual a posição" em que se está com relação aos outros do grupo.

É parecido com o sistema militar. O fulaninho não é simplesmente o "fulano" no quartel. Ele é o S1 (soldado) fulano. E por "S1" entenda-se que ele está abaixo do terceiro sargento e acima do S2(soldado). E para aqueles que não sabem, mesmo entre os S1 existe uma posição pro nosso amigo S1 fulano. Essa posição é definida por nota (em algum teste dentro da base) ou qualquer outra classificação. Em caso de empate, o critério é a idade mesmo.

Muito prazer! Eu sou o M2 Mario. Sou aluno de mestrado do segundo ano. Ao chegar no laboratório, eu era aluno de pesquisa e portanto meu nome era o mais baixo da lista (que está estampada na porta do lab). Além da hierarquia, existe também o sentimento de responsabilidade que os japoneses têm com relação aos que estão abaixo da sua posição. Um novato em uma organização receberá ajuda, dicas, instrução e etc do seu superior imediato na "lista". E é claro, isto tudo não lhe é explicado. Afinal, (para os japoneses) isso é conhecimento comum.

Este mês três novos recrutas devem entrar no laboratório. Eles ficarão sob minha responsabilidade durante o primeiro mês de estudos. O orientador (aquele mesmo que me mandou dar aulas em japonês) me delegou a tarefa pessoalmente (devido a falta de M1`s disponíveis). Vamos ver como vai ser.

A propósito, agora meu nome está no meio da lista. É isso aí. Senão me chamar de senhor M2, vai pagar 10 flexões!

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Bombeiro

Não sei bem se a frase se aplica ao caso, mas vou mencioná-la mesmo assim. "Nasce-se incendiário e acaba-se bombeiro".

Semana passada estava eu em uma conferência onde vários pesquisadores de grandes empresas de tecnologia apresentaram seus estudos. Aqui, vale uma explicação. Em "estudos" leia-se "tecnologia para proteção de conteúdo", do tipo que serve para não deixar copiar, DVD, CD e assemelhados. E em "empresas" leia-se "Sony, NEC, Toshiba, Fujitsu e etc".

Uns anos atrás, lembro que era comum esbarrar nesses tipos de proteção. Conheci vários amigos que quebravam ou conheciam métodos para burlar travas de segurança. E agora cá estou eu, no simpósio nacional sobre isso no Japão. É como se eu tivesse passado para "o outro lado". E, isso, não falando geograficamente.

No meio desses caras com tantas idéias legais, papers bem escritos e slides "animadinhos" (sim, eu não sei fazer pirotecnias no powerpoint). Eu também tive uma idéia.

Vou começar a pegar "as últimas técnicas" direto dos "shoppings Camelot" por todo o Brasil. Terei uma fonte "inesgotável" de assunto para pesquisar. E de quebra ainda arranjo uma desculpa para viajar para o Brasil. Quem sabe até pago pelo futuro empregador.

Não que isso já não tenha sido pensado. Aposto um picolé de limão como essas empresas têm um exército de pessoas por aí procurando essas coisas. A vantagem que eu teria é livre acesso ao "banco de dados Camelot", afinal qualquer brasileiro que vai lá e paga "5 pila" pelo desejado joguinho/DVD/CD recebe "de grátis" uma aula de como "crackear" pelo menos aquele exemplar.

Outra vantagem é que, provavelmente, os peões deste exército não são os mesmos que pesquisam sobre isso. Agora imaginem. Já seria lucro apenas comunicar que certa técnica existe, explicar como funciona e ,claro, batizar o trabalho com um nome bonitinho.

Enfim, bombeiro...

domingo, janeiro 27, 2008

21 - Second post


Caríssimos,

infelizmente não poderei ver este filme tão rápido como gostaria. Para os que acompanham os posts deste blog, deverão lembrar que há algum tempo eu publiquei um post sobre um livro chamado "Bringing down the house", e que haveria um projeto para transformá-lo em filme. Pois aqui está: 21.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

A volta

Depois de vários dias de aviões, piscinas, churrascos, amigos e etc e tal, a volta para a rotina. Neste caso, em específico, poucas gravuras foram tão fiéis à realidade dos fatos. E em face disso que vos digo, deixo apenas ela para vocês entenderem o que se passará comigo nas próximas semanas.



Feliz 2008!!

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Pequeno gafanhoto




Estava eu, perdido nos meus pensamentos, quando o meu orientador dirige a palavra para mim e me pergunta: O que preferes: Automata, teoria da computação ou complexidade?
E eu, do alto da minha sapiência, respondi: Como assim?
E ele continuou: É. Qual a que tu sabe mais?
Daí para adiante a coisa desandou.

Minha percepção dos três assuntos se baseia, principalmente, nas coisas que lembro da graduação. Estudei e continuo estudando hoje, mas os conceitos principais ainda remontam daquela época.

E aí a coisa desandou. "Ah, eu acho legal teoria da computação". E ele falou "Ótimo, no semestre que vem tu vai dar aula para os alunos de graduação". Sim, meus caros amigos, me tornei um professor universitário. Até aí, tudo bem! Afinal, como já disse, lembro dos conceitos básicos: linguagem, máquina de Turing, decidabilidade e outras bruxarias. É só chegar, subir no "tablado" e falar um monte de bobagens. Se me lembro bem, era assim que funcionava.

Meus leitores assíduos (pai e mãe) e cientes da minha condição geográfica, já perceberam a gravidade da situação. Não é simplesmente subir lá e falar um monte de mentiras. Não, meus caríssimos leitores. É subir lá ficar na frente de todo mundo e falar um monte de mentiras em japonês! Porque, afinal, isso é muito mais divertido. Obviamente, apenas para o meu orientador ou como é chamado aqui, "sensei". Sim, "pequeno gafanhoto" esta é a sua tarefa.

Dentro de umas semanas, novo semestre e as aulas começaram. As aulas designadas para mim não são muitas, é verdade. Apenas o suficiente para me tirar algumas semanas de sono. As duas primeiras aulas já foram. E para ficar ainda mais emocionante, meu orientador não decide o assunto com antecedência de mais de uma semana, ou seja não dá nem pra decorar o discurso e mesmo se tivesse mais tempo, nem daria porque quem mais faz pergunta é o próprio sensei, que gosta de ficar sentado lá no meio dos alunos. Afinal o "desafio do dragão" é saber tudo. E lá estava eu, decor... aprendendo meu novo vocabulário todo escrito em kanji.

Obviamente, eu já sei algumas palavras. Por exemplo, comida, azul, vermelho, água, ler, escrever e etc. Entáo foi bem fácil aprender a desen... escrever coisas do tipo "determinismo", "não-determinismo", "decidabilidade","máquina","linguagem","definição","teorema", "intersecção"...
E lá fui eu, firme como prego na areia. A estratégia era: já que não entendem nada do que eu falo mesmo. Vou escrever tudo no quadro. Tudo em bom japonês! E aparentemente até que estava bem escrito, mas a reação da audiência não era das mais empolgadas. Depois de um massacre de 30 minutos, correções e etc, o martírio acabou. Agora meu sensei quer que eu tente fazer a apresentação da conferência em japonês.

"Try not. Do or do not. There is no try, pequeno gafanhoto".