sexta-feira, agosto 25, 2006

A Prova


Nesta semana foi distribuida a famosa Medalha Fields, que também é conhecida como prêmio Nobel da matemática, com a diferença de que ela é distribuida a cada 4 anos (como já era lembrado no filme Good Will Hunting).
Entre os vencedores desta edição está o russo Gregori Perelman que escreveu em 2003 a prova de um dos problemas de 1 milhão de doláres, a Conjectura Poincarè. Por uma simples questão de incapacidade mesmo, vou descrever o problema como sendo a especulação de transformar uma figura de 3 dimensões em um ponto dado certas condições.
Dados relevantes: a prova tem 328 páginas (para comparação, a prova do último teorema de Fermat tem cerca de 200), o Instituto Clay oferece 1 milhão de doláres para uma prova que aguente por pelo menos 2 anos ao escrutinío alheio e, para engrossar o caldo, a conjectura já possuia mais de 100 anos sem prova (mais precisamente 102 anos).
O Dr. Perelman faz jus aquele estereótipo de pessoa estranha, como são associados muitas vezes os cientistas. Além de não aceitar o prêmio, não apareceu para receber e até pouco tempo estava recluso (dizem que tem como hobby fazer trilha nas florestas russas para colher cogumelos). Segundo o famoso escritor Simon Singh (que se bobear deve estar preparando um livro sobre a conjectura), para o autor da feito "basta que o problema esteja resolvido e nada mais".
O mundo precisa de pessoas estranhas assim, são eles que lançam luz aos problemas que intrigam nós, os meros mortais, apesar das esquisitices. Mas nesse caso, será que basta mesmo que o problema esteja resolvido e "nada mais"?
Pessoalmente, a prova definitiva só virá depois do anúncio do prêmio de 1 milhão de doláres do Instituto Clay...

terça-feira, agosto 15, 2006

O Louvre não é o melhor museu que já fui.


O melhor museu que já fui na vida é o Deutsches Museum em Munique (não, não e o Musée du Louvre , que é o segundo melhor, para a revolta dos franceses). A razão para a escolha é simplesmente porque sou engenheiro, daquela espécie que não sabe nem combinar cores direito. Logo, é perfeitamente normal que me sinta muito mais a vontade em um museu de tecnologia do que em um de artes. Um detalhe, a diferenca entre os dois tipos de museu é gritante como se pode conferir nos sítios de cada um.

Sobre museus, visitei semana passada um outro museu de tecnologia chamado National Museum of Emerging Science and Innovation ou para os íntimos (como eu, que sou vizinho) apenas Miraikan. Além da visita, também assiti uma palestra com a diretora do museu a senhora Noyuri Mima. A palestra era sobre o "conceito Miraikan", sua estrutura, o motivo da criacao e as atividades do museu. Os dois últimos itens são os que mais me chamaram atenção, porque gostaria muito de ver algo assim no Brasil.

Em resumo, o motivo da criação e as atividades do museu sao balizados por dados que indicam que o interesse por tecnologia dos jovens japoneses (por volta dos 20 anos de idade) vem caindo sistematicamente. Tendo isso em vista, fazem atividades em escolas, treinam professores, montam apresentacoes, atuam na midia e montem a estrutura do museu, que diga-se de passagem não é vinculada à mesma estrutura admistrativa de outros museus, como, por exemplo o National Science Museumque deve ser o próximo que vou. Outro dado interessante é que apesar da economia do Japão não estar "lá uma brastemp" (sim, para quem não sabe a economia japonesa vai mal das pernas faz uns 10 anos, e só agora começa a dar sinais de melhora) o orçamento para essas atividades foi preservado, ou seja, não houve cortes, o que só demonstra a preocupação deles nessa área.

No Brasil existem alguns museus desse tipo. Por exemplo, em São José dos Campos existe o Memorial Aeroespacial Brasileiro que mesmo não sendo um museu propriamente dito, é baseado mais ou menos na mesma idéia de divulgar a ciência. Não tão específico é o Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS, e se encaixa melhor nos exemplos estrangeiros porque disponibiliza informações sobre ciência básica.

Não conheço os dois museus, mas acredito que a motivação para a construção de ambos não deve ter sido tão bem embasada como o que vi no Miraikan, e nessa eu incluo também o Deutches, que embora seja um museu muito bom, também não deve ter sido pensado como parte de uma solução para resolver um problema específico.

Apesar da nossa juventude ter tantos outros problemas mais urgentes do que "interesse em tecnologia", é público e notório que não podemos simplesmente abrir mão desse planejamento estratégico. Caso contrário, estamos assegurando a nossa posição de estar sempre correndo atrás do bonde. É bom olhar e ver o que os "mais desenvolvidos" estão fazendo para assegurar a liderança, ajuda a enxergar que mesmo em tempos de vacas não tão gordas é possível tomar medidas para assegurar o futuro e que não há almoço grátis. Afinal de contas, como em Sao Paulo, queimar carros no meio da rua também é esporte em Paris, e a economia da França acaba de ser passada pela da China, mas mesmo assim duvido que os franceses tenham cortado o orçamento do Louvre.

sábado, agosto 05, 2006

21

Dentre as minhas preferências por filmes, existe aquele tipo que é sobre assaltos bem bolados do estilo Ocean´s Eleven. Acho muito legal essas histórias em que um bando se junta e resolve fazer uma operação que todos acham impossível de ser feita. Talvez o que eu goste mesmo nesse tipo de filme é que sempre está envolvido algum "malandro", que conhece muito bem do assunto e sempre arruma um "jeito inteligente" para tudo dar certo.

Sobre "jeito inteligente", me refiro apenas às malandragens, como em "Catch me if you can", em que o Di Caprio nunca é pego ou ainda "Maverick", em que o protagonista além de ser talentoso com cartas ainda conseguia "ler" os oponentes durante o jogo. Existem outros tipo de filmes que me agradam também, como por exemplo os que tratam da inteligência mesmo, no sentido ortodoxo "da coisa". Como por exemplo: "Uma mente brilhante " e "Gênio indomável".

Com o mote de inteligência e o "assalto impossível" o filme 21 , que ainda é projeto, torna-se, pelo menos para mim, uma ótima sugestão. O filme baseia-se no livro "Bringing down the house" que conta a história do famoso clube de blackjack dos alunos do MIT. Para quem não lembra, Blackjack é aquele jogo que ganha quem chegar mais perto de 21. E por isso, pros lados de cá, o jogo é conhecido como 21.

Devido a própria natureza do jogo, o qual as cartas podem ser contadas (como em "Rainman"), o talento dos alunos recrutados para o clube e uma série de "malandragens" para despistar o pessoal dos casinos era possível ir para Las Vegas fazer dinheiro.

O filme, ou melhor, o projeto de filme ainda leverá algum tempo para ser finalizado, o que é ruim, porque o mote realmente me agrada, mas por outro lado é bom pois dá tempo de comprar e ler o livro. E algo que ainda me deixa mais ansioso sobre este projeto é a participação de Kevin Spacey que deverá interpretar o professor que organiza os alunos do clube.

Com Kevin Spacey realmente o projeto promete, ainda mais depois de ver filmes como "K-pax" e "Usual Suspects". Neste último, aliás, ele dá uma aula de malandragem.

terça-feira, agosto 01, 2006

Aizuti

Morar em outro pais e aprender a lingua lá e uma experiência interessante não apenas pelo fato de que estás ganhando "mais um meio de comunicação ", mas também porque é uma oportunidade de aprender outras coisas relacionadas à língua.

O caso do japonês é interessante, porque enquanto a pessoa está falando o interlocutor fica emitindo umas palavras do tipo "rai", "hum " no meio da frase do outro. Eles chamam esse artifício de aizuti (あいづち). É a tal da função metalinguística que a Tia Maricotinha falava lá na aula de português em algum lugar do passado. E de acordo com a "Tia" serve para verificar o canal de comunicação. Pelo mesmo motivo, temos aquela compulsão quase cretina de falar "1,2,3 testando" quando vemos algum microfone indefeso.

Continuando, conversar com um japonês em outra lingua é uma ocasião que dá para perceber a importância desse artifício para eles. Aconteceu comigo: Ele falava e falava e eu me mantinha calado ouvindo, como qualquer ocidental. Resultado: a cada 10 palavras ditas por ele,vinham as perguntas: "estás ouvindo?", "estás me entendendo?", "estou falando certo?". Enquanto para nós o contato "olho no olho" é a garantia de que a pessoa está prestando atenção, para os japoneses os sinais são esses pequenos sons.

Outro detalhe interessante é quando contamos alguma coisa "nova". A principal reação nipônica é falar "ooohhh", com variações de volume e duração do som. Mas o que torna esta expressão mais curiosa é que não interessa muito se o que estás falando é "pisei em uma casca de banana hoje" ou "a Leila foi quem matou Odete Roitman". Ou seja, o que para nós (ou pelo menos para mim) soa como se a pessoa estivesse surpresa pelo que estou contando, na verdade é apenas para "avisar" ao falante que ela está interessado, ou não, mas está ouvindo.

Chega um ponto no aprendizado da lingua que mesmo um estrangeiro sente a necessidade de usar esses sons, caso contrário, o ouvinte vai achar que não estás entendendo ou que não estás interessado no que ele esta falando. Então, agora como parte da "moral da história" quando lerem que tudo sobre quem matou Odete Roitman está na Wikipedia todo mundo fala "ooohhhh".